Saber gerir não acontece de um dia para outro.

Não é por magia que, da noite para o dia, se ganham as competências necessárias para exercer o papel de Gestor. Ainda que, muitas vezes, é de ontem para hoje que somos confrontados com o desafio de exercer funções de gestão.
Esta é uma realidade que experimentei na primeira pessoa. Hoje vejo-a acontecer com alguns dos profissionais com quem trabalho. Existem estratégias que nos podem ajudar a vencer este desafio. Funcionaram comigo e acredito que o podem ajudar a si!

“Se alguém te oferecer uma oportunidade incrível, mas não tens a certeza se a consegues fazer, aceita e concentra-te em aprender como se faz”, Richard Branson

Desde 2007, altura em que ingressei no mundo empresarial, que trabalhei para chegar à liderança das equipas em que me inseria. A ideia era ir subindo degrau a degrau a escada da liderança até fazer parte da equipa de Gestão. E as empresas em que estive inserido sempre apostaram forte em formação, justiça seja feita. Mas o momento em que nos aparece a oportunidade… surge de repente… como que nos apanha desprevenidos.
Ao sermos promovidos a gestores esperamos, logo, desempenhar o novo cargo na perfeição. Acreditamos que os colegas nos vão ver como líderes porque já nos conhecem. E achamos que quem nos promoveu nos vai dar todo o apoio que precisamos para atingirmos os objetivos. E temos tempo de aprender rapidamente tudo o que precisamos saber sobre como gerir.
Quantas vezes, são aqueles que nos promoveram a acreditar, ou querer acreditar, que, de facto, os resultados vão ser imediatos e os objetivos estabelecidos superados “na hora”.

Mas na prática será assim?

Porque será que é tão difícil esta adaptação à gestão? Porque é que tantos bons trabalhadores lutam para se safar enquanto gestores ou diretores? Porque é que sendo dos melhores a fazer depois não conseguimos levar os outros a fazer também?
Bom, a primeira questão que coloco é – Gestor ou gestor executor?
  • Agora que tens novas tarefas, de quais das anteriores te livraste?

A resposta mais comum é nenhuma! Dos novos gestores espera-se que continuem a fazer aquilo que já fazem e, mesmo com pouca ou nenhuma formação, consigam fazer ainda a “simples” tarefa de gerir/liderar/delegar/ensinar/motivar/cativar…
Por algum motivo assumimos que se alguém faz bem uma tarefa então será capaz de desempenhar uma outra da mesma forma eficaz mesmo sem preparação ou ajuda.
A segunda questão prende-se com o tipo de objetivos.
  • Que novos objetivos te foram colocados?

Muitas das funções que antecedem o papel de gestor têm indicadores e objetivos bem definidos. Os objetivos que ao serem atingidos e ou ultrapassados com regularidade nos levaram a ser promovidos. Só que para o novo papel de gestão não são postos objetivos diferentes, transitam os mesmos indicadores que já nos acompanhavam. Ora, é da natureza humana focar-se no que é medido, então vamos continuar a fazer aquilo que nos garante que continuamos a atingir os objetivos que nos são propostos. Ou seja, vamos fazer aquilo que sempre fizemos.

Então, quando é que vamos desempenhar o nosso novo papel de gestor?

Nas horas extra, no nosso tempo livre, bem ao jeito de um hobby que acabamos de começar e estamos entusiasmados, mas para o qual não temos tempo de nos dedicar.
O que vão achar os nossos novos “subordinados” deste tipo de liderança em part-time? Será o nosso trabalho profissional?
Preparei recentemente um plano de trabalho para ajudar a promover um vendedor a gestor de zona, com uma equipa de 3 anteriores colegas.
O plano era simples, # clientes a abdicar, # dias de formação, # meses de preparação do novo gestor acompanhado. Tudo corria bem até à inevitável primeira contrariedade.
Da equipa de 3 + 1 foi-se 1… e a quem calhou visitar os clientes agora órfãos?
Este novo gestor comercial começou a desaparecer, pois lutava de noite e dia para conseguir assumir todo o trabalho. Qual a probabilidade de as coisas correrem bem no tempo?
Felizmente este novo gestor conseguiu pedir ajuda. Mostrou que tinhas as características necessárias à liderança e com humildade conseguiu dizer…

Tenho dúvidas sobre o que está para vir, sinto que não vou ser capaz de enfrentar este desafio sozinho. Será que me podem ajudar?

Do outro lado teve a sorte de encontrar uma empresa que o soube ouvir e entender que se tinha deixado levar pela dificuldade do momento. Rapidamente se admitiu a fuga ao plano e se readaptou à nova realidade. Medidas foram tomadas, primeiro foi o “batalhão de ajuda resolver a crise” e um novo plano foi traçado.
Nem sempre o processo flui com esta naturalidade.
Se foi promovido para um cargo com funções de gestão e sente que de alguma forma encaixa no que foi dito neste texto fica o conselho. É necessário começar por concentrar-se primeiro nas estratégias. Pensar a forma eficiente de fazer as coisas. Sistematizar os seus melhores processos para que os possa rapidamente delegar à sua nova equipa, muitas vezes à equipa com quem já trabalhava e agora tem o desafio de gerir e acima de tudo liderar.
Deixo-lhe 3 dicas que podem ajudar:
  1. Promova o “desapego” das suas funções mais técnicas. Temos tendência a preferir fazer aquilo em que somos bons. Foi o que nos levou a ser promovidos até aqui. Agora temos o desafio de fazer coisas diferentes nas quais podemos não ser bons logo à primeira (tentativa).
  2. Aprenda a gerir a sua agenda. O seu trabalho não visível acabou de aumentar e será difícil mantê-lo se não definir bem as suas prioridades.
  3. Aprenda a delegar. Conheça sua equipa e teste diversas formas de delegar.

Atenção! Delegar não é abdicar.

Não se esqueça, a perceção estratégica não pode reduzir a relevância do sentido de urgência em situação de crise.
Se está a pensar atribuir responsabilidades de gestão a alguém da sua equipa, garanta que lhe está a dar as diretrizes certas. Defina com essa pessoa os indicadores de desempenho, KPI’s, pelos quais será feita a avaliação do trabalho efetuado. Construam os novos objetivos em conjunto. Trabalhe com essas pessoas sobre as tarefas de que irá abdicar e como/quem vai executar essas tarefas. Dê feedback frequente sobre o desempenho da pessoa face à sua expectativa, seja honesto nesse feedback.

Ficam 3 questões que deve garantir que o seu novo gestor sabe sempre responder:

  1. O que esperam que ele faça?
  2. Como é que vai ser medido o desempenho dele?
  3. O que é que estão a achar do seu desempenho?

“Estou a perder um bom colaborador e ganhar um mau chefe, Vasco”, Empresário Anónimo

Se esta afirmação já lhe passou pela cabeça, então talvez possa beneficiar com as dicas dadas neste artigo. Para minimizar as hipóteses de uma má aposta tenha um plano detalhado de trabalho. Fale comigo em vascorosapires@vr2p.pt.
Vasco Rosa Pires