“Speak when you are angry and you will make the best speech you will ever regret.”

AMBROSE BIERCE, The Devil’s Dictionary

Ao reagirmos impulsivamente, em função do que estamos a sentir no momento, sabemos que, provavelmente, nos vamos arrepender. O que nem sempre temos consciência é que essa decisão nos vai condicionar inconscientemente ao longo do tempo, muito tempo…
Muitas vezes agimos sob o domínio de uma emoção, possivelmente uma emoção forte como é a raiva, a fúria ou, porque não pela positiva, a euforia. Temos a consciência que as emoções passam rápido e que são os atos que ficam. Tememos a consequência, mas raramente nos preocupamos com o impacto duradouro da decisão em si.
 Um desconhecido acabou de passar à minha frente na fila para o café. Fico zangado, respiro fundo, escolho ignorar. Rapidamente esqueço a situação e deixo-me levar pelo cheirinho do café que tanto gosto. Continuo a tirar total partido daquele meu momento. Associo aquele aroma e aquele lugar ao prazer de relaxar. Nunca mais me lembro do indivíduo.
Controlei a minha emoção momentânea: fúria. Rapidamente passou e não vai condicionar o meu futuro!

Mas e se tivesse reagido? Seria diferente? Como ficaria a minha memória sensorial daquele lugar?

Vamos pensar num ambiente de trabalho. Estou numa reunião com a minha equipa (faço-o todas as segundas-feiras logo pela manhã). Normalmente promovo a boa disposição e todos nos sentimos confiantes a estabelecer objetivos “atrevidos” para a nossa semana. Só que esta segunda-feira tudo me correu mal e tenho, como se diz na gíria, os “nervos à flor da pele”. O Joaquim, nome fictício que inventei para este propósito, atrasa-se. Quando ele finalmente chega dou-lhe um sermão com extrema dureza. Aproveito e distribuo recados a todos. Afirmo perentoriamente que não tolero falhas e que estamos ali para trabalhar a sério. Conduzo o resto da reunião sisudo e não permito sugestões de ninguém.
 Na segunda-feira seguinte, bem-disposto depois de um fim de semana relaxante, já não há qualquer vestígio da minha emoção da reunião anterior. Mas será que consigo voltar ao estilo de reunião participativo, onde reina o bom humor e todos são ousados na hora de estabelecer objetivos e dar opinião?
Acontece que, de forma mais ou menos inconsciente, tendemos a ser congruentes com as nossas atitudes e estamos à espera que os outros também o sejam. A reunião terá agora, e possivelmente durante muito tempo, um caracter mais sério.

A minha decisão emocional criou um precedente para o comportamento futuro, meu e da equipa. Já passou há muito a emoção que originou o mau ambiente, mas a decisão que tomei vai continuar a afetar a nossa reunião no futuro.

 Consigo assimilar que uma decisão tomada “a quente” possa trazer consequências sérias. Ter consciência que essa decisão vai condicionar as minhas decisões futuras, de forma tão vincada, mesmo depois de ultrapassadas as emoções é para mim completamente aterrador.
 É assim, que para mim, a expressão “dormir sobre o assunto” ganha um fôlego completamente novo.
 E afinal o que é que aprendi?
Se não reagir às minhas emoções não me vai acontecer nada, não vou sofrer consequências nem agora nem depois. Contudo, se tomar uma decisão emocional posso não só lamentar a consequência imediata como também criar uma sucessão de decisões que me vão influenciar negativamente durante muito tempo.
 Vou aprender a controlar as minhas emoções!
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